Obra de um querido amigo. Todos os créditos a ele. 

Vamos começar

Apenas começar

Mais um dia mais um ano

E cometer um desengano

Mais uma semana mais um mês

E recomeça tudo outra vez

Desconexo desconectar

E aprender de novo a amar

desconheça-me.

Ah, meu bom amigo
eu conheço o teu desejo
e é para desiludir-te
que agora vos escrevo.

Não procures conhecer-me inteira
se pretendes ao meu lado ficar
Pense, quão chata eu seria
se pudesses me desvendar!

O que mais gosto em ti,
se te serve de exemplo
é a pergunta que trazes oculta
por detrás desses olhos negros.

Se o teu mistério findasse
de tristeza me abateria.
Que praga, que moléstia
o conhecimento de ti me traria.

Então aquiete-se amigo
pois recuso a me revelar.
Nem eu conheço tudo de mim
para que possa lhe explicar.

Conforme-se meu amigo,
se ao meu lado queres permanecer
é essencial que se acostume
a me desconhecer.

prática

 As linhas profundamente gravadas na minha palma.
As observo e procuro meu caminho,
nesse percurso um retrocesso,
olho para trás e me reinvento.

Lembro da palma quente de minha mãe,
do seio terno.
O sinal ardido de uma palmada.
Lembro do contorno da minha mão torto e desfigurado
marcando a minha palma no papel.

E lembro dos acertos, dos tropeços,
dos risos e dos abraços.
De tudo o que vi e de tudo o que me  viu.
E olho a minha palma com suas linhas
profundamente gravadas...
E percebo que meu caminho sou eu.

SÓ MAIS UMA DE POETA

Anseios e devaneios
Nos quatro cantos obscuros da alma.
Um tom e um desejo
Que proclamam a singeleza da falha.
A falta enrubesce a face
E causa desespero
O medo antecede a morte
E a morte é só o ensejo.
Procuro no âmbito estranho
O sentido perdido e nato
Passo as mãos pelo oceano
E recalco o tato.
Eu olho para os olhos vazios
Ansiosos de mais estrago
E sinto a sinceridade
Do desejo abstrato.
Na caçada envolvente da noite
A observar o retrato
Sem esquecer do beijo
Que outro dia foi dado
Pulando de sonho em sonho
Sorrindo enquanto durmo
É mesmo interminável
O onírico indecifrável...

Onde estão os grandes amores?

Porque eu cansei de amor de brinquedo.

De achar que alguém se importa comigo

Quando na verdade não o é.

Eu quero rasgar minha alma

Sem vergonha de mostrar a neurótica que sou

Sem medo de entregar minha histeria

Minha obsessão

De bandeja, de antemão.

Eu cansei de suspirar por alguém que não liga

Eu cansei de chorar por alguém que se quer se importa

Que não nota...

Eu estou disposta a entregar meus sentimentos

Mas se isso valer a pena

Eu quero reciprocidade

E quero agora, quero já!

Já não quero esperar pelo amanhã

Pelo dia melhor

Pelo nascer do sol

Eu quero que ele brilhe agora mesmo

Cansei de andar a esmo

Sem motivo nem espera

Eu quero um abraço quente

Envolvente

Que me faça ter a certeza

De que há um alguém.

Que me faça ter a certeza

De que alguém me percebe especial

Não pela beleza, pelo externo, pelo fino trato

Ou inteligência

Mas simplesmente por ser eu!

Isso é tão lindo, tão simples e tão puro...

Eu quero aprender a me fazer

Indiferente.

Brincar com as palavras

Como se brinca com gente.

Eu cansei do seu desdenho

Do seu pouco fazer, do pouco querer!

Eu quero muito

Intensidade

Eu quero sentir

E quero agora

Insanidade

Pois quem foi que disse que paixão é racional?

Talvez seja pra ser assim mesmo

Vociferar o lado mais grotesco e animal.

Eu quero grandes amores

Eu quero alguém que ocupe o coração.

E quero agora...

o aroma da primavera

Um dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais belos

 foram aqueles em que lutaste. - Sigmund Freud

'Vós que aqui adentrais abandonai toda a esperança.' - às vezes eu pensava se não seria esse o slogan da vida.

Não, eu não sou uma pessoa particularmente pessimista, mas assumo que andei por aí bastante desesperançada durante um tempo. Me lembro com clareza do momento crucial, aquele fatídico momento em que eu perdi minha fé na vida.

Foi em uma aula qualquer - mentira, foi em uma aula de psicanálise - e a professora colocou a seguinte questão para a turma: Qual é, ou quais são os ideais da juventude de hoje? Aquele silêncio que respondeu a questão me matou um pouco. E silêncio era uma coisa muito pertinente naquele momento, pois nós sabíamos bem, que em certa medida, eramos mesmo a juventude do silêncio.

Uma juventudezinha meio tímida e atarracada... muito alienada. Pálida devido à falta de sol, pois passava os dias dentro de casa, desabafando os augures da vida nas redes sociais. Dali, poderiam sair ótimos empresários, engenheiros, advogados, matemáticos, físicos, psicológos e o que há... mas essa juventudezinha não produziria nenhum cidadão. Talvez até produzisse os pseudo-revolucionários, aqueles que encaravam a vida com muitos posts... digo, fé e pouca luta. Vendo o Big Brother sem perceber que esse Grande Irmão era bem mais que um reality e estava, de fato, nos observando.

Quando as manifestações no Oriente Médio explodiram eu comecei a ver a luz no fim do túnel. Parecia uma epidemia. Quanto mais o movimento avançava mais orgulhosa eu ficava. ESSE MUNDO TEM JEITO!

Então eu esperei.. e esperei... e esperei. Hora ou outra o vento ia trazer as sementinhas das flores que estavam nascendo por lá pro lado de cá. E não deu outra!

Esses pseudo-revolucionários, que tanto me causaram tristeza resolveram passar o protetor solar, colocar um bonezinho e uns óculos escuros - que é pra driblar o melanoma, depois de tanto se esconder do sol - e resolveram lutar! Que orgulho desse Brasil de meu deus! Que orgulho da juventude desse país.

A juventude que não é representada pelo Marco Feliciano, a que sabe que ele não pode meter o bedelho nas resoluções do CFP e que homossexualidade não vai voltar ser homossexualismo, não senhor! Que gay também é cidadão e que a constituição foi feita pra TODO MUNDO!

A juventude que sabe que o corpo de uma mulher é dela pra ela cuidar. E que não é saia, bunda ou calcinha à mostra - ou a sua ausência - que podem justificar um crime. Estuprador não é pai! Estuprador não tem que pagar pensão, tem que se haver com a justiça! Útero não é território do governo.

Essa juventude linda que viu o copo transbordar e sabe que não são apenas 0,20 centavos.


Nem preciso dizer que o mundo voltou a fazer sentido. A primavera chegou pra gente e eu posso até sentir o aroma das flores.